sexta-feira, 24 de junho de 2011

O Astro (Rede Globo, 1977) Janete Clair - Usineira de Sonhos

Uma excelente recordação de uma novela de grande sucessom que logo estará 
sendo reprizada em Mini série, Vamos matar a saudade.
 
(Dina Sfat e Francisco Cuoco).
“O astro”, em 1977, foi a 14 das 18 novelas que a saudosa Janete Clair escreveu para ser exibida pela Rede Globo, às 20h. Na direção dos 186 estiveram Daniel Filho  e Gonzaga Blota. Esse não foi o primeiro sucesso da autora, mas foi com essa novela que ela deixou de ser apenas uma bem-sucedida autora de novelas, para ser considerada uma das melhores novelistas do Brasil. Com ela teve início um grande ciclo de novelas, iniciado com “Anastácia, a mulher sem destino” (1967) até “Eu Prometo” (1983).
A trama girava em torno de Herculano Quintanilha, que surgia no primeiro capítulo na pele de um astrólogo de churrascaria. Ele se envolve com Amanda (Dina Sfat) e acaba conhecendo o poder na alta sociedade do Rio de Janeiro, envolvido com uma riquíssima família de descendentes árabes. Foi a principal atração da novela até o capítulo 62.
Foi quando Salomão Hayala (Dionísio Azevedo), o patriarca da família árabe, morreu covardemente assassinado.
Mas “quem matou Salomão Hayala?”. Esse mistério garantiu a audiência durante cinco meses e teve um desfecho surpreendente quando foi revelado que o cabeleireiro Felipe Cerqueira (Edwin Luisi), o jovem amante de Clô Hayala (Tereza Rachel), esposa da vítima, era o assassino.
(Dionísio Azevedo, como Salomão Hayala, e Tony Ramos),
O destaque principal da novela foi o romance de Márcio (Tony Ramos) e Lili (Elizabeth Savalla). Ele a conhece através de Herculano e se apaixona pela jovem, nascida no Engenho Novo, subúrbio do Rio de Janeiro, que trabalha como taxista. Simples e batalhadora, ela sofre com o marido, o malandro Natal (Carlos Eduardo Dolabella). Márcio e Lili vivem um conturbado romance e enfrentam a dura oposição da família Hayala, que deseja ver Márcio casado com Josie, a filha mais nova de Mello Assunção. 
A novela foi a consagração de Tony Ramos como galã global. O par romântico deu tão certo que foram escalados como protagonistas da trama de Janete em 1979: “Pai herói”.
Mas sem sombra de dúvidas foi Cuoco no papel do guru Herculano quem deu o tom da novela, pois construiu um personagem ao mesmo tempo cínico e encantador.
No final da história ele sente que sua vocação era maior do que o amor que sentia por Amanda e parte, sozinho, para cumprir o seu destino.
(Heloísa Helena).
No núcleo humilde, concentravam-se também grandes interpretações: Eloisa Mafalda (Consolação), Carlos Eduardo Dolabella (Natalício), Ângela Leal (Laurinha) e Flávio Migliaccio (Neco). Sem falar de Samir Hayala (Rubens de Falco), Ida Gomes (Magda), Ênio Santos (Cerqueira), Gleide Blota (Doralice), Heloísa Helena (Beatriz), Stepan Nercessian, Macedo Neto, Sílvia Salgado, Tony Ferreira, Marilena Cury, Marília Barbosa, José Maria Monteiro e tantos outros.
(Eloísa Mafalda).
Acusado de fraudar a empresa, Herculano foge abandonando a mulher Amanda, e refugia-se num país ditatorial da América Latina, servindo ao presidente desse país como guru e conselheiro.
No Brasil, a polícia chega ao assassino de Salomão Hayalla: era Felipe Cerqueira (Edwin Luisi), o jovem amante de Clô, um toxicômano que fora humilhado por Salomão e tinha como cúmplice o amigo cabeleireiro Henri (José Luiz Rodi).
Janete Clair costumava dizer que quando faltava inspiração, lia jornais. E foi em notícias de jornal que ela construiu seu crime de ficção. Quando "O Astro" estava para acabar, a imprensa carioca registrava o assassinato da jovem Cláudia Lessin Rodrigues. Os acusados do crime eram um rapaz viciado em cocaína e seu amigo, um cabeleireiro. Na novela os assassinos foram Felipe Cerqueira, um toxicômano mau-caráter, e Henri, seu amigo cabeleireiro, o cúmplice. Felipe matou Salomão com uma coronhada de revólver na cabeça, durante o capítulo 42.
Curiosidades:
- Pela terceira vez consecutiva, o ator Francisco Cuoco protagonizava uma novela da autora no horário das 20h.
- Dina Sfat não ficou muito satisfeito com seu papel de Amanda, par romântico de Herculano. A atriz não repetiu o sucesso que tinha feito em outras obras de Janete, como “Selva de Pedra”, em que se destacou como a desequilibrada Fernanda, e “Fogo Sobre Terra”, como Chica Martins. “Amanda não foi uma personagem do coração da Janete. Herculano, Márcio e Lili foram”, comparou Dina, com razão.
- O último capítulo de “O Astro” foi manchete  de primeira página de jornal. Três dias antes do final da novela, jornal do Brasil  deu o furo: "o assassino é Felipe", apesar de terem sido gravados 5 finais diferentes para enganar a imprensa. A escolha do amante da mulher da vítima para ser o assassino decepcionou o público pela obviedade: Felipe sempre fora o principal suspeito.
- Três dias depois de novela sair do ar, Carlos Drummond de Andrade escrevia em sua coluna de jornal: "Agora que O Astro acabou vamos cuidar da vida, que o Brasil está lá fora esperando". Foi nessa coluna que Drummond deu um apelido a Janete Clair: "Usineira de Sonhos". 
- O diretor Daniel Filho  foi substituído por Gonzaga Blota depois do trigésimo capítulo da novela.
- A história de Herculano Quintanilha era baseada na trajetória do ex-ministro do Bem-Estar Social da Argentina, Luiz Lopez Rega, conhecido como “El Brujo”, que tivera grande influência na administração do ex-presidente Juan Domingo Perón.
- Janete Clair só revelou o assassino de Salomão Hayala no último capítulo da trama, deixando o país inteiro numa grande expectativa.
- O Astro foi reapresentada, em compacto de 20 capítulos, entre fevereiro e abril de 1981, às 22h15m.
- A Rede Globo está gravando uma nova versão dessa obra, espero que seja melhor do que as versões de “Irmãos Coragem” e “Selva de Pedra”. Nas obras da autora, o elenco tem que ser muito bom e ter bastante experiência, não foi o caso dessas novelas anteriores que tiveram novas versões.
Janete Clair entrou para a história da televisão brasileira, é a Nossa Senhora das Oito.

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